29/03/2000

O Estado de S. Paulo

Censo aponta 8.700 moradores de rua em SP

Levantamento da Fipe indica que região central concentra 53% dessa população

São Paulo tem 8.700 moradores de rua, de acordo com um censo realizado no mês passado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe-USP). No levantamento, encomendado pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS) e divulgado ontem, 37% dos entrevistados disseram ter ido para a rua nos seis meses anteriores.
 
A região central concentra 53% da população de rua da capital, ou 4.600 pessoas. O maior grupo (70%) está na faixa de 18 a 49 anos, do sexo masculino (85%). Crianças e adolescentes representam 7% do total. Pelo critério de cor, 41% são brancos, 31% pardos e 27% negros.
 
O censo da Fipe diferencia-se de levantamentos anteriores encomendados pela SAS pelo fato de todos os incluídos na estatística terem sido abordados pessoalmente. A última pesquisa do gênero, realizada em 1998, tinha apontado uma população de rua 35% menor.
 
Só foram levadas em consideração no censo pessoas que dormem em locais públicos, incluindo albergues. Não entrou na contagem quem pede esmolas, mas dorme em casa. Houve casos de moradores de locais improvisados, como buracos na estrutura de viadutos, que não aceitaram ser ouvidos. Como a metodologia exigia contato direto, eles também foram excluídos do levantamento.
 
Duração - O contrato entre a SAS e a fundação, no valor de R$ 710.600,00, prevê três fases de trabalho, com oito meses de duração. A Fipe foi escolhida por "notório saber" em estudos de pobreza urbana e moradia.
 
A coordenadora da pesquisa, Silvia Schor, disse que as fases 2 e 3 já começaram. A intenção é reunir até junho dados sobre aspirações dos moradores de rua, grau de escolaridade, incidência de doenças mentais e casos de morte de menores.
 
Mais de 20 entidades assessoraram o trabalho de campo - conduzido por cem técnicos -, indicando os possíveis pontos de pernoite, como praças, terminais rodoviários e do metrô, áreas comerciais, igrejas e cemitérios.
 
Ex-moradores de rua auxiliaram nas entrevistas, realizadas sempre à noite.
 
Dos 96 distritos da capital, só 2 não foram verificados: Marsilac e Anhangüera. De acordo com Silvia, diversas fontes locais garantiram que não há moradores de rua nesses distritos.
 
Para o padre Júlio Lancelotti, do Vicariato do Povo de Rua, a iniciativa revela a disposição da SAS de cumprir uma lei de 1997 que obriga a Prefeitura a realizar tais censos anualmente. Ele considera o trabalho útil para orientar políticas adequadas às necessidades de um grupo heterogêneo.
 
"Só número não basta", afirmou.