08/05/2013

Hinos

Abide With Me e Uma Ponte Longe Demais: lembranças, bur(r)ocracia e voluntarismo

O reverendo Henry Francis Lite

O hino protestante "Abide With Me" foi escrito pelo escocês Henry Lite (1793-1847) e é cantado com a melodia composta pelo londrino William Henry Monk (1823-1889, dizem que o hinário dele vendeu 60 milhões de exemplares). Aqui, os protestantes das antigas conhecem como "Comigo Habita", com letra que, Deus me absolva, nem chega perto dos versos de Lite, inspirados pelo trecho de Lucas 24:29 (os discípulos no caminho de Emaús).

 

Cantei (e toquei) muito na igreja presbiteriana. Ganha um hinário quem achar igreja onde se cante hinos hoje em dia.

 

Mas eu lembrei de "Abide With Me" porque é cantado pelos soldados aliados prestes a se render aos alemães no final de "A Bridge Too Far" (Uma ponte longe demais, 1977), um dos melhores fimes de guerra que já vi. Dirigido pelo Richard Attenborough, tem no elenco Sean Connery, Gene Hackman, Michael Caine, Anthony Hopkins, James Caan, Maximilian Schell, Laurence Olivier, Robert Redford e muitas outras feras.

 

"Uma ponte longe demais" conta a história da operação Market Garden, pós-Normandia, uma lambança dos aliados, que cometeram dois pecados capitais: voluntarismo e burrocracia.

 

Contra voluntarismo e burrocracia, só Deus. Oremos.

 

 

 

 

Abide With Me

 

Abide with me; fast falls the eventide

The darkness deepens; Lord, with me abide

When other helpers fail and comforts flee

Help of the helpless, oh, abide with me

 

Swift to its close ebbs out life's little day

Earth's joys grow dim, its glories pass away

Change and decay in all around I see

O thou who changest not, abide with me

 

I need thy presence every passing hour

What but thy grace can foil the tempter's power?

Who, like thyself, my guide and stay can be?

Through cloud and sunshine, Lord, abide with me

 

I fear no foe, with thee at hand to bless

Ills have no weight, and tears no bitterness

Where is death's sting? Where, grave, thy victory?

I triumph still, if thou abide with me

 

Hold thou thy cross before my closing eyes

Shine through the gloom and point me to the skies

Heaven's morning breaks, and earth's vain shadows flee

In life, in death, o Lord, abide with me

 

PS - Meu pai, que é muito detalhista e caprichoso (e me ensinou a tocar Comigo Habita quando eu era criança), achou a letra completa do hino e, de quebra, fez uma tradução livre:

 

Abide with me! Fast falls the Eventide; 
The darkness thickens. Lord, with me abide 
When other helpers fail, and comforts flee, 
Help of the helpless, O abide with me!

Swift to its close ebbs out life's little day; 
Earth's joys grow dim, its glories pass away: 
Change and decay in all around I see. 
O Thou who changest not, abide with me!

Not a brief glance I beg, a passing word; 
But as Thou dwellst with thy disciples, Lord, 
Familiar, condescending, patient, free, -- 
Come, not to sojourn, but abide with me.


Come not in terrors, as the King of kings; 
But kind and good, with healing in Thy wings, 
Tears for all woes, a heart for every plea. 
Come, Friend of sinners and thus bide with me.


Thou on my head in early youth did smile, 
And though rebellious and perverse meanwhile, 
Thou hast not left me, oft as I left Thee. 
On to the close, O Lord, abide with me!


I need thy presence every passing hour. 
What but thy grace can foil the Tempter's power? 
Who like Thyself my guide and stay can be? 
Through cloud and sunshine, O, abide with me!

I fear no foe with thee at hand to bless; 
Ills have no weight, and tears no bitterness. 
Where is death's sting? where grave thy victory? 
I triumph still, if Thou abide with me.

Hold then thy cross before my closing eyes; 
Speak through the gloom, and point me to the skies. 
Heaven's morning breaks, and Earth's vain shadows flee! 
In life, in death, O Lord, abide with me! 
 
 
Comigo habita
 
Fica comigo; rápido cai a tarde
As trevas crescem; Senhor, fica comigo
Quando outros falham e não há consolação
Ó Ajuda dos indefesos, faze comigo habitação.
 
Não um breve relance eu suplico, uma palavra passageira;
Mas como habitaste com os discípulos, Senhor.
Frequente, condescendente, paciente, acessível,-
Vem, não para uma breve permanência, mas para habitar comigo.
 
Não em terror, como Rei dos reis;
Mas afável e bom, com cura em tuas asas,
Lágrimas para todas as angústias, um coração para toda súplica.
Vem, Amigo dos pecadores e comigo habita.
 
Tu realmente sorrias em minha mente na tenra juventude,
E embora rebelde e perverso de vez em quando,
Várias vezes eu te deixei, Tu não me deixaste.
De agora até o fim, fica comigo.
 
Rápido ao próximo cair do dia da vida
As alegrias do mundo ficam mais obscuras,
Suas glórias passam.
Eu vejo em tudo mudança e decadência
Ó tu que não mudaste, fica comigo.
 
Eu preciso de tua presença em toda hora que passa
O que,  a não ser tua graça, pode frustrar o poder do tentador?
Quem, a não ser tu mesmo, pode ser meu guia e apoiador? 
Através das nuvens e do brilho do sol, Senhor, fica comigo
 
Não temo o inimigo, contigo ao lado para abençoar.
As doenças não oprimem, e as lágrimas não amarguram
Onde está, ó morte o teu aguilhão? Onde está, sepultura, a tua vitória?
Eu ainda venço, se tu ficares comigo.
 
Mantenha tua cruz diante de meus olhos que se fecham,
Brilhe através das trevas e me mostre os céus.
Rompe a aurora dos céus, e se esvaem as vãs sombras da terra.
Na vida, na morte, ó Senhor, fica comigo.